Neste domingo, partiu um grande homem: Hésio Cordeiro. Com seu modo cordial, mas firme quando necessário, ele mostrou-se muito cedo um grande articulador, sabendo respeitar as diferenças e aglutinando forças em torno de projetos. E foram vários. Como intelectual, fez sua carreira na UERJ, onde foi aluno, professor, diretor do Instituto de Medicina Social (1983-1984), que ajudou a criar e consolidar como um grande núcleo de ensino, pesquisas, e projetos de articulação ensino-serviços e, finalmente, reitor desta universidade (1992-1995). Hésio também partilhou seus conhecimentos como consultor da OPAS em vários países, sem nunca abandonar as atividades docentes. No plano político foi um dos líderes do movimento pela reforma sanitária, participando ativamente da construção do seu ideário, sobretudo no CEBES e na ABRASCO (como presidente entre 1983 e1985). Em 1986, dirigiu os trabalhos da VIII Conferência Nacional de Saúde, um marco do processo de reforma sanitária, fundante do futuro SUS, juntamente com Sérgio Arouca.

Como gestor público, na presidência do INAMPS (1985-1988), fortaleceu o processo de descentralização do sistema de saúde para os estados e alguns municípios, como Natal-RN, através dos SUDS. Esta estadualização do sistema de saúde se constituiu como uma transição para a implantação do SUS, antecipando-se à legislação que possibilitaria sua implantação. Seu papel como articulador político foi importante, inclusive junto ao Congresso Nacional, para a formulação das leis do SUS.

Ainda como presidente do INAMPS, apoiou a criação de uma rede de núcleos de Saúde Coletiva em todo o Brasil, órgãos de articulação universidades-serviços que difundiram as ideias-mestras para o desenvolvimento da reforma sanitária e a construção do novo sistema de saúde, promovendo as articulações necessárias para que os instrumentos de gestão fundamentais à concretização deste sistema de saúde fossem criados. O Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC) da UFRN foi um desses centros de irradiação e estímulo à reforma sanitária, que teve, como os demais núcleos, um papel na implantação de um projeto nacional, que se desdobrava em projetos regionais e locais, com suas idiossincrasias e cores próprias da grande diversidade do nosso país. Esses núcleos continuaram desenvolvendo um papel fundamental como agentes de formação da força de trabalho para o SUS e de apoio à sua gestão através de projetos diversos de consultorias, pesquisas e eventos.

Depois de sua aposentadoria da UERJ, Hésio continuou desenvolvendo práticas de gestão e ensino. Foi secretário de saúde do Rio de Janeiro, vinculou-se à Universidade Estácio de Sá, onde dirigiu o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde e coordenou a pós-graduação em Saúde da Família, e foi diretor de gestão da Agência Nacional de Saúde. Também continuou participando do desenvolvimento do projeto SUS em inúmeros eventos nacionais e internacionais e contribuindo para iluminar as esperanças de toda uma geração sobre os destinos do Brasil. Sua luz deve continuar viva através das novas gerações da Saúde Coletiva.

Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da UFRN.